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Não se fazem mais passados como antigamente #3 – Uma aula de Blues

15 jan

Layla and another assorted songs _ Derek and the Dominos (1970)
Polydor
Nota: 9.7 / 10



            Não é preciso ir longe para entender o porquê de, durante os anos 60, tantos muros em Londres conterem a pichação “Clapton is god”. O ícone da Fender Stratocaster até hoje tem uma habilidade literalmente divina, que lota estádios mesmo cinquenta anos após o início da sua carreira. Alguns deles, como “Cocaine” e “Bad Love” são referências até hoje pra qualquer um que aprecie um bom rock.
            Quase sempre agindo como um músico mambembe, Clapton tocou em diversos grupos nos anos 60, tais como os Yardbirds, o Blind Faith, o John Mayall and the Bluesbreakers, além do Cream. Na virada da década, procurando mais o anonimato de uma banda comum, Eric juntou amigos para um supergrupo- por mais irônico que isso pareça: o Derek and the dominos (nome criado em cima da hora do primeiro show, sem nenhuma razão em especial), que só teve uma obra. Obra esta que poderia ser facilmente exibida em um museu.
            Layla and anotherassorted songs foi gravado em Miami, e contou, em grande parte das músicas, com Duane Allman, guitarrista solo da Allman Brothers Band e considerado o melhor da terra do Tio Sam em termos de blues- em todos os tempos. Com essa química rolando no grupo (fora a outra “química” que deixava-os chapados), o que se tem nesse disco é um misto de improvisação, coverse composições inéditas que demonstram uma força incrível dos dois guitarristas.
            As três primeiras faixas são composições do grupo, que ainda não tinha Duane participando. “I looked away” e “Bell Bottom Blues” são mais românticas, enquanto “Keep on Growing” é uma canção elétrica, com solos mais destacados. Entre os covers, uma versão ”Nobody knows when you’re down and out”, que é o famoso blues que canta as tristezas da vida, além de uma bela improvisação sobre a já espetacular “Little Wing” de Jimi Hendrix.
            Uma das músicas que mostram como a dupla Clapton-Allman foi produtiva é a faixa 9, “Why does love got to be so sad”, uma disputa acirrada de solos longos e travados nota a nota entre os dois. Só quando se ouve pela décima vez consegue-se notar quem é quem dentro da maestria de notas.
            A outra canção é Layla.
            Famosa por aquela versão acústica, conhecida nas rádios e rodas e violão, que Clapton fez em 1992, a faixa-título, em sua versão original, é explosiva e perfeita. A letra,baseada tanto em uma lenda oriental antiga quanto no amor platônico de Eric com Patti Harrison, tem uma primeira parte como um blues moderno, novamente protagonizado pelas disputas entre os guitarristas. Subitamente a música muda para uma coda em piano em dó maior, feita pelo bateirista Jim Gordon, que torna a música macia, quase melancólica. Duas faces de uma mesma música, que se juntam em uma harmonia incontestável.
            Pouco após o lançamento do disco, Duane Allman morreu, ainda com vinte e tantos, vítima de um acidente de moto. Isso, aliado com brigas e críticas da mídia acusando Clapton de usar a banda para se promover– o que ele nega veementemente – fizeram com que a Derek and the Dominos fosse enterrada logo após o fim de sua última faixa, a balada “Thorn tree in the garden”. Mas não há problemas: esse álbum, com a belíssima capa assinada por Émile Schonberg, não faria feio em qualquer museu do mundo.

Por: G.L. Mendes
De: Carapicuíba – SP
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