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E aí vibrou …

20 set

Acordo pela manhã, mal abro os olhos, e já apanho o BlackBerry. A necessidade de olhar aquela tela é tanta que esqueço que tem alguém dormindo em minha cama. Uma pessoa respirando do meu lado, e de alguma forma, mesmo que dormindo, ela também quer a mesma atenção que o Android, quer ser lembrada ao acordar.
Não importa, já esvaziei a minha caixa de entrada, chequei as minhas atualizações, e retornei os meus inbox. UFA, agora posso olhar ao meu redor. É mesmo, não tinha reparado como ele é tão lindo dormindo, acho que vou acordá-lo aos beijos e carinhos. Mas…  escuto o barulho de mensagem chegando, aquela vibração única do meu celular. Penso mil vezes, olho o aparelho e observo alguém que está deitado comigo, quem devo dar atenção primeiro? Melhor ao meu Smartphone, pode ser algo urgente – ou apenas mais uma notificação de FarmVille.
Me viro e me preparo para te encher de SZ , símbolo muito popular em minha rede, mas que droga…ele já se levantou e eu nem percebi. Tudo bem , amanhã eu o acordo da maneira que imaginei, deixa para depois …
Para compensar vamos juntos ao restaurante bem chique. Chegou o prato, que coisa bacana, já clico no Instagram. Vou postar para a galera ver, quantas curtidas irei receber? Lógico, não sou egoísta, para mostrar que não estou só, já marco a pessoa que está do meu lado. Vamos juntos ao cinema, agora é hora de colocar o celular no silencioso, desligar, nem pensar! Na hora do trailer minhas mãos não estão próximas das suas, é que antes eu preciso fazer um check-in aqui no Cinemark.
Faço pose de casal feliz para colocar as fotos nas redes sociais, porque minhas relações têm que parecer sempre melhores que a sua, mesmo que seja “fake”. Chego a minha casa, já é noite. Meus pais pedem para jantarem comigo, porém, agora não dá. Esse é um horário que todos os meus amigos estão na Internet. Não consigo parar de teclar, janto na frente do computador.
Que droga, por qual motivo, justo essa pessoa demora tanto para me responder? Já faz vinte minutos que eu enviei essa mensagem. Preciso stalkear a sua vida. Mas, esqueço de ligar e perguntar se você está bem.
What’s UP , nome do meu aplicativo favorito. Todos falam comigo lá, em uma velocidade incrível, uma conexão inacreditável. Só que quando eu esbarro eles na realidade, ninguém pergunta como estou ou me diz “ Hey dude, What’s up?”.Confesso que alguns são bem mais interessantes apenas no mundo web.
Mando “saudades” para a galera que estudei na infância, e a conversa morre aí, ninguém se mexe, ninguém sai da frente da tela azul. Tenho 500 seguidores no meu twitter, mas quando as coisas ficam complicadas na vida real, nem 5 aparecem.
Sou conectada. As pessoas me mandam muitos “likes” e compartilham daquilo que eu falo. Quando alguém me pergunta sobre tal coisa, logo respondo: “Publiquei na minha rede, vê lá”, esqueço que as pessoas que perguntam algo querem escutar da minha voz o que realmente acontece.
E assim o tempo passa … sabe, não importa. Porque eu ouvi dizer que a tecnologia une as pessoas e é isso que eu quero. Quero poder falar com liberdade, quero gritar quando quiser, quero ser escutada. Caminho mais um pouco ouvindo o meu Ipod e não percebo o desabafo do meu amigo que anda do meu lado, tão perto e tão distante….


Por: Débora Komukai
De:  São Paulo – SP
Email: deborakomukai@revistafriday.com.br

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