Conexão Qatar #5: I don’t speak arabic!

22 mar
O dia já estava se escondendo, era hora de voltar à cidade. A maré da praia parecia querer me contar algo, o barulho das ondas me trazia energias jamais sentidas. Comecei a observar todo aquele cenário, aquele céu, aquelas águas. Há tempos não parava tudo ao meu redor, só para observar, notei minhas colegas sorrindo uma para outra e comecei a sorrir também. E por um instante agradeci por aquele momento. E no meio de toda essa reflexão escuto bem de longe um ruído, até que o som se aproxima e percebo alguém gritando comigo “ YALLAH JAPONESA, YALLAH” *. Minha mente volta ao mundo, bem mais leve, mais pura. E percebo que realmente, o dia já se foi, mas a noite no mundo árabe ainda me reservava muitas histórias.

Adoro escutar música observando a estrada. E no Qatar isto se tornava mais interessante. Sua estrutura é uma mistura de desenvolvimento com áreas totalmente desabitadas. Uma hora observava um enorme prédio, no outro segundo, só enxergava areia. Também sei que a mesma paisagem deserta que vi há alguns dias atrás , provavelmente , não estará mais lá daqui a poucos anos. Já que, quem é ligado no mundo sabe, esse país promete. Engraçado era notar que viajei para o extremo oeste do país, de ônibus, e demorei apenas 2H. Cara, duas horas é a média de tempo que eu faço para voltar da Avenida Paulista – São Paulo para a minha casa, em dias comuns. Sim, lá não presenciei nenhum congestionamento, não importando o horário. Juro, que às vezes, essa falta de caos me despertava até certo “medo”.

Tatuagem de henna e hubs ( Por Débora Komukai)

Professora Qatari em praia local ( Por Débora Komukai)

Tipica tenda de praia do país ( Por Débora Komukai)

Meus pés nas águas do mar de Alanah-Anah
O ônibus estacionou , vejo um estádio enorme , com o seguinte letreiro: “ AL GHARAFA SPORTS CLUB” . Este time é a maior equipe de futebol do país. Atualmente conta com a liderança do técnico brasileiro, carioca da gema, Leonardo Vitorino. Quando ele veio nos cumprimentar a felicidade me dominou, não imaginava o quanto é gostoso estar em outro país e escutar alguém desconhecido falar o seu idioma , a sua gíria.Conhecemos os jogadores – dentre eles havia 3 brasileiros. Foram todos tão atenciosos que mesmo com o cansaço pós treino, nos chamaram para jogar com eles .Lógico, que não perdi esta oportunidade.

E do nada lá estava eu, um nada, no meio daquele campo enorme, no centro daqueles homens gigantes. Não há dúvidas, o futebol é algo que uni as pessoas não importando o lugar que esteja. É o raro momento no qual não importa se você fala o mesmo idioma ou não, as regras são claras e um único sinal expressa tudo. A noite estava muito fria. Após correr alguns minutos comecei a sentir aquele vento me cortando, mas nada era motivo para se sentar no banco. Vi cenas raras , quando alguém fazia gol eram 3 gritos da mesma tonalidade , expressando palavras diferentes , mas com o mesmo significado. Avistei um homem com vestes longas (ثوب) e sandália jogando ao meu lado. Disputei a bola contra um jogador profissional – cena que jamais imaginaria viver e confesso que eu perdi a bola. Mas, consegui deixar a minha marquinha naquele gramado verde Brasil , com um golzinho no canto da rede , com direito a comemoração.

Jogador do Al Gharafa , boleragem.

“Walter”, representando o Brasil ( Por Débora Komukai)
Na volta estava exausta, até que escuto uma história cômica, que me faz despertar. Um colega que viajou comigo conseguiu cometer alguns erros de inglês, maiores que o meu. O primeiro foi o seguinte, o sujeito queria um copo da água e me soltou algo assim “I need WALTER” . (Imaginem só a cara da garçonete), porém, não feliz com esta situação o mesmo individuo tenta conversar com uma atendente do hotel em inglês, a mulher simplesmente respondeu: “I don’t speak arabic”… Que fase!

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